As batalhas de um futuro bem próximo serão diferentes das que vemos hoje. Além de investirem na construção de robôs para atuar em conflitos, as Forças Armadas dos Estados Unidos planejam fabricar vestes que deixariam os soldados invulneráveis aos ataques inimigos. Tal como a armadura do Homem de Ferro.
Não perder homens em combate está se tornando uma obsessão para as Forças Armadas dos Estados Unidos, e seu comando não tem medido esforços nesse sentido. A alternativa de substituir militares por máquinas já está em desenvolvimento. Outra opção, a de tornar os soldados invulneráveis, ou quase, também caminha a passos largos, pelo menos no quesito vestimenta.
A ideia já existe na ficção: trata-se do Homem de Ferro, criação do escritor de quadrinhos Stan Lee, que Hollywood popularizou nos últimos anos.
Nos quadrinhos, o traje do Homem de Ferro é inventado, fabricado e usado por Tony Stark, bilionário dono de uma das mais importantes indústrias de armas dos EUA.
Entre outras características, a roupa permite ao usuário voar a velocidades supersônicas, resistir a disparos de grosso calibre e ter um arsenal de armas à disposição. Mais modestos, os militares americanos admitem que seu traje não fará ninguém voar. Quanto ao resto, porém, a meta parece ser chegar tão perto quanto possível da ficção.
Técnico explica características de um dos modelos de armadura Talos
A armadura do Homem de Ferro real, denominada Traje de Operador para Assalto Tático Leve (Talos, na abreviatura em inglês) foi inspirada por Talos, o mítico gigante de aço que, na Grécia Antiga, era encarregado de proteger a deusa Europa.
O Exército dos Estados Unidos nunca escondeu a vontade de se inspirar no Homem de Ferro para criar armaduras e recursos inovadores para os seus soldados. Até por isso, os mais diversos departamentos de engenharia, centros de pesquisa parceiros e universidades vivem apresentando ao mundo algumas novidades nesse sentido.
Agora, por exemplo, chegou a vez dos engenheiros do “US Army Research, Development and Engineering Command”(RDCOM) mostrarem o seu projeto. Chamada de TALOS (ou Tactical Assault Light Operator Suit), a armadura conta com planejamento ousado: deve entrar em testes operacionais em um prazo de até quatro anos.
Para tanto, a ideia dos engenheiros é aproveitar diversas tecnologias que já estão disponíveis, desenvolvendo-as e realizando as devidas adaptações para que possam trabalhar juntas em prol da criação de verdadeiros supersoldados.
Uma das principais funcionalidades do TALOS é proteger os combatentes do tiros inimigos. Dessa forma, a principal exigência da armadura é que ela seja totalmente à prova de balas. Isso, no entanto, eliminaria totalmente a flexibilidade de movimentação dos soldados. Por isso, o RDECOM trabalha a utilização de novas ligas metálicas mais leves, resistentes e maleáveis.
O TALOS, no entanto, deve contar também com várias outras funcionalidades. Não estamos falando de mísseis teleguiados ou foguetes que façam os soldados voar com liberdade pelos campos de combate. Contudo, ainda assim algumas ferramentas seriam muito úteis.
Além da blindagem, um sistema de correntes elétricas promete repelir os projéteis quando atirados na direção do soldado, por exemplo. Esse programa de utilização de energia também deve garantir uma ferramenta capaz de “guardar e eliminar energia para prevenir ferimentos e melhorar a performance”.
A armadura Talos
Para que o “contato com o mundo exterior ao da armadura” seja quase real, o TALOS contará com um sistema de sensores internos e externos, ou seja, para o corpo humano e também para a armadura. Com isso, a “essência” do combate real também é mantida, uma vez que o soldado poderá identificar melhor terrenos e lidar com diferentes situações.
Já um visor no maior estilo Google Glass pode trazer diversas funcionalidades para o combatente. Além de informações de localização, comunicações da sua base e GPS, essa ferramenta também deve disponibilizar visão noturna e leitores de temperatura. Pode não ser nenhum Jarvis (como bem lembrou o Sploid), mas, mesmo assim, pode ser de grande ajuda.
Por fim, articulações hidráulicas e que já foram vistas em alguns exoesqueletos desenvolvidos pelos próprios militares podem ser incluídos. Essas ferramentas são capazes de dar mais força e velocidade a qualquer soldado que precisar superar os mais diferentes obstáculos.
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A armadura que torna um soldado imbatível era o sonho do almirante William H. McRaven, chefe do Comando de Operações Especiais dos EUA (Socom) até agosto de 2014.
Em uma conferência militar realizada em maio de 2013, McRaven expôs a ideia de fabricar uma roupa capaz de proteger os soldados e aumentar sua percepção, força e eficiência em combate. Ele conclamou representantes das indústrias de armas e defesa a lhe trazerem conceitos e tecnologias que tornassem o traje real. O desafio tinha um objetivo: sem um Tony Stark por perto, era preciso aproximar empresas, laboratórios e instituições acadêmicas que, de outro modo, nunca trabalhariam juntas. “Nenhuma indústria pode construir isso”, diz o sargento-mor Chris Faris, do Exército dos EUA.
Percepção ampliada
As capacidades do TALOS ainda não foram divulgadas. Mas segundo Michael Fieldson, gerente de projetos do Socom, o traje deverá, em linhas gerais, oferecer proteção integral, leve e eficiente contra disparos de armas e força sobre-humana.
Tal como o Google Glass, computadores e antenas embutidos na roupa ampliarão a capacidade de percepção do usuário, passando-lhe informações confiáveis em tempo real no campo de batalha. Sensores vão monitorar a temperatura corporal, os batimentos cardíacos e os níveis de hidratação. Aquecedores e resfriadores integrados regularão a temperatura interna do traje. O aumento da força, a fim de permitir ao usuário, por exemplo, levar cargas a longas distâncias, deverá contar com a ajuda da hidráulica.
“O requisito é uma família abrangente de sistemas numa roupa para proteção de combate, na qual reuniremos um exoesqueleto com uma armadura inovadora, mostradores para monitoramento de energia e saúde e arma integrada a tudo isso”, resume o tenente-coronel Karl Borjes, consultor científico do comando de engenharia, desenvolvimento e pesquisa do Exército americano.
Ao atrair a nata do setor de pesquisa dos EUA, o Talos deve promover avanços técnicos. O prestigioso Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês), por exemplo, estaria trabalhando em uma espécie de armadura líquida, feita de fluidos que se solidificam sob a ação de campos magnéticos ou correntes elétricas.
O coronel da reserva José Vicente da Silva, da Polícia Militar de São Paulo, não vê grandes vantagens no Talos a princípio. “Não vejo aplicação, a não ser para forças especiais das Forças Armadas”, diz. No contexto de ações urbanas como as enfrentadas pela PM, ele salienta que o fundamental para o combatente é ter movimentos facilitados, o que o Talos não garante. E mesmo no caso de forças especiais, o coronel lembra que há outras opções já disponíveis, como robôs e minidrones.
Protótipos da roupa deveriam ter sido apresentados em meados do ano passado, mas a programação foi alterada.
O próprio almirante McRaven também mudou seus planos, aposentando-se em agosto do ano passado – supostamente pelo estardalhaço causado na imprensa pela novidade planejada.
De qualquer modo, o substituto de McRaven, o general Joseph L. Votel III, também é um firme defensor da proposta do TALOS e confirma que a versão final da roupa deverá ser aprovada até 2018.
Em alguns anos, portanto, o “desenvolvimento revolucionário em capacidade de sobrevivência e habilidades” prometido por McRaven já poderá estar à disposição dos guerreiros do Tio Sam.
Farda futurista
Monitores - Sensores repassam informações relevantes sobre o ambiente externo para telas transparentes no capacete do usuário.
Estado físico - Sistemas embutidos monitoram os sinais vitais, tais como calor do corpo e níveis de oxigênio. Torniquetes infláveis tratam de pequenos ferimentos.
Leveza e resistência - Novas ligas metálicas maximizam a proteção e distribuem inteligentemente o peso, ajudando o usuário a correr e saltar com 40 kg de carga ou mais.
Armadura - Feita com materiais de última geração, deverá proteger a cabeça e o corpo, sobretudo contra explosões, balas e estilhaços.
Percepção - Sistemas de gerenciamento embutidos, associados a computadores que podem ser vestidos, antenas e rádio programável.
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Mobilidade - O exoesqueleto será equipado com recursos para aumentar a agilidade e a resistência do usuário.
Vídeo: Conheça Talos, o Homem de ferro
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