O
G1, portal da Globo, traduziu e republicou matéria de Tom Spender, na
BBC, sobre o atleta chinês Qin Kai, que pediu a também atleta He Zi em
casamento diante do público do mundo. Segundo a matéria da BBC, isso
poderia ser “pressão masculina”.
Para conseguir “explicar” como um pedido de casamento apaixonado pode ser pressão
masculina – praticamente o seu oposto –, a Tom Spender cita uma usuária
do Weibo, espécie de Twitter chinês, que teria afirmado que seria muita
pressão externa para “uma decisão tão íntima e importante”. A usuária
teria dito:
“Se ela rejeita a oferta de casamento, vai ser rotulada como uma pessoa cruel por bilhões ao redor do mundo, que estão observando. Isso pode ser mascarado como romântico, mas eu vejo o contrário.”
Tom Spender ainda garante que,
na página da BBC no Facebook, alguns usuários criticaram uma cobertura “sexista” da mídia, que estaria mais centrada no pedido do que na conquista desportiva da nadadora.
Chineses adoram pedidos de casamento inusitados. Um pedido de casamento deste porte raramente é feito ad nihil: apesar de adorarmos o show, a bem da verdade, é como luta livre telecatch: sabemos muito bem que é tudo já pré-acordado entre as partes.
É difícil alguém pedir em casamento em
público dessa forma sem haver uma preparação, algum tempo de namoro,
umas mãos dadas, quiçá uma boca na boca, uma boca na mão, uma mão
naquilo, uma boca naquilo, algumas sessões de aquilo naquilo.
Bom, isso para pessoas normais. O nome
disso é “vida afetiva” – ou “sexual”, nesse mundo que só vê a forma, e
não o conteúdo. Não parece ser o caso da BBC e suas fontes, tão adoradas
pelo G1.
Vide-se este trecho:
“Mecanismo de controle”
Escritora indiana baseada em Londres, Sunny Singh tuítou que a proposta revela um senso de direito masculino.Ela descreveu o caso à BBC como “um movimento peniano, que definitivamente não é romântico”.
Movimento peniano. Movimento peniano. Mo-vi-men-to pe-ni-a-no. Movimento peniano. MOVIMENTO PENIANO.
MOVIMENTO PENIANO.
Faltam palavrões penianos na língua
portuguesa para descrever o pensamento de Sunny Singh, o conteúdo do
pensamento, a forma do pensamento, por que pensa o que pensa, por que a
BBC se preocupa com o seu tweet, por que o G1 traduz, do que essas
pessoas estão precisando para voltar a ter uma vida normal.
Essa mulher se chama mesmo “Sunny”?
Acabei de visitar um centro espírita
aqui do lado e perguntei para o próprio dr. Sigmund Freud o que achou de
traduzir um pedido de casamento como um “movimento peniano” e, entre
engasgadas de charuto, ele respondeu num mavioso sotaque austríaco que
“Veja bem, veja bem, eu falo o que falo sobre falo, mas tudo tem limite,
né, mein Freund“.
A falta de uns movimentos penianos entre
quem fala em “sexismo” e usa vocabulário psicanalítico para
“problematizar” e textãolizar fatos normais da vida de qualquer pessoa
normal e transformar o normal em anormal nas redações da BBC ao G1,
enquanto os próprios envolvidos estão rindo no momento mais feliz de
suas vidas, se torna gritante (gemer não está no páreo) no fato de não
ser o primeiro pedido em casamento das Olimpíadas.
Marjorie Enya, voluntária que trabalhava
no estádio, pediu Isadora Cerullo, da seleção brasileira de rugby, em
casamento. No microfone, para o estádio inteiro. E teve um sim como
resposta. O sim foi comemorado pelo mundo inteiro, inclusive pelo Globo Esporte. Afinal, foi um pedido de casamento, deu certo e, o melhor de tudo, ainda lésbico.
Por que, mesmo sendo algo feito no
microfone diante do mundo, não foi problematizado, não foi textãolizado,
não teve feminista psicanalizadora vendo pressão da sociedade, sexismo,
invasão (como é que é o negócio? “mecanismo de controle”?) e aquela
papagaiada de quem acha que está academizando e sendo inteligentão,
quando só está se cegando pra realidade por baixo das ideologias?
Diz a mesma Sunny Singh para a BBC:
Mas isso foi diferente, disse Singh, porque não envolveu o “sequestro” de uma cerimônia de medalhas.
Aaaaaah tá. Aí não foi “movimento peniano” que não é “nada romântico”.
Que falta faz um pênis para certas pessoas.
Fonte: sensoincomum.org
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