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LIVRO: ZERO ZERO ZERO - Roberto Saviano - 'UMA VERDADE INCONVENIENTE'


Descrição do livro

‘Zero Zero Zero’ é a mais fina, pura e cara farinha de trigo, bem como a gíria pela qual os traficantes europeus se referem à cocaína de melhor qualidade. O autor traça um painel impressionante de como o pó branco liga as principais praças comerciais do mundo e impõe suas tenebrosas regras, seus códigos morais e exércitos, direta ou indiretamente, a todos nós. Da Calábria ao México, da selva colombiana à Rússia, do Brasil às ruas de Londres e Milão, o escritor italiano revela os segredos internos e as conexões deste que é possivelmente o mais lucrativo dos mercados globais, e demonstra o fato terrível de que ninguém escapa de seus tentáculos. Ameaçado de morte depois de sua reportagem de fôlego sobre a máfia napolitana, a Camorra (livro posteriormente adaptado, com grande sucesso de bilheteria, para o cinema), Saviano vive há mais de oito anos em endereço desconhecido, sob vigilância cerrada, 24 horas por dia. Nesse período, ganhou intimidade com as polícias e agências de inteligência ao redor do mundo, que lhe franquearam acesso a informações privilegiadas para a redação de ‘Zero Zero Zero’. O resultado é não só uma radiografia da ‘grande corporação’ da droga como uma reflexão profunda sobre a eficácia de um combate inglório a esse produto de demanda incessante.

CAPÍTULO 1 - COCAÍNA

O sujeito sentado agora a seu lado no metrô cheirou para acordar hoje de
manhã; ou o motorista do ônibus que te leva pra casa porque quer fazer hora extra sem sentir dor na cervical. As pessoas mais próximas de você cheiram. Se não é seu pai ou sua mãe, se não é seu irmão, então é seu filho. Se não é seu filho, é seu chefe. Ou a secretária dele, que só cheira aos sábados pra se divertir. Se não é seu chefe, é a mulher dele que cheira para ir vivendo. Se não é a mulher, é a amante dele, a quem ele dá pó de presente, em vez de brincos e diamantes. Se não são eles, é o caminhoneiro que faz chegar toneladas de café nos bares da sua cidade e que não conseguiria aguentar todas aquelas horas de estrada sem pó. Se não é ele, é a enfermeira que está trocando o cateter do seu avô, para quem o pó deixa tudo mais leve, até mesmo as noites. Se não é ela, é o pintor que está pintando a sala da casa da sua namorada, que começou por curiosidade e depois se viu contraindo dívidas. Quem cheira está ao seu lado. É o policial que está a ponto de te parar, que cheira faz anos, e agora todos se deram conta e escrevem cartas anônimas que mandam a seus
superiores esperando que o suspendam antes que faça alguma besteira. Se não é ele, é o cirurgião que está acordando agora para operar sua tia e que graças ao pó consegue abrir até seis pessoas por dia, ou o advogado que você vai consultar para o seu divórcio. É o juiz que se pronunciará sobre sua causa cível e não considera o pó um vício, só uma ajuda para gozar a vida. É a atendente que está te dando o bilhete de loteria que você espera que possa mudar seu destino. É o marceneiro que está
fazendo pra você um móvel que te custou o salário de um mês. Se não é ele que cheira, é o montador que veio à sua casa instalar seu armário comprado na Ikea, que você não seria capaz de montar. Se não é ele, é o síndico do seu prédio que vai te interfonar em alguns minutos. É o eletricista, este mesmo que agora está tentando mudar a tomada do quarto de lugar. Ou o cantor que você ouve para relaxar. O padre, que você foi ver para saber se pode se crismar porque precisa batizar o neto e que fica estupefato por você ainda não ter recebido esse sacramento, cheira. Os
garçons que te servirão no casamento de sábado, se não dessem um tiro, não conseguiriam ter nas pernas tanta energia por horas a fio. Se não são eles, é o fiscal da prefeitura que acaba de estabelecer novas áreas de pedestre e recebe pó de graça em troca de favores. O manobrista cheira, agora ele só fica alegre assim. O arquiteto que reformou sua casa de veraneio; o carteiro que te entregou uma carta com seu novo cartão de crédito também. Se não ele, a moça do SAC que te responde com voz
cristalina e pergunta em que pode ser útil. Aquela alegria, igual em todo telefonema, é efeito do pó branco. Se não ela, o assistente que está sentado agora à direita do professor à espera de te examinar. O pó o deixou nervoso. O fisioterapeuta que está tentando recuperar seu joelho, e ele, ao contrário, fica sociável com pó. O atacante cheira, aquele que marcou um gol arruinando a aposta que poucos minutos antes do fim da partida você estava ganhando. A prostituta que você pega antes de voltar pra casa, quando precisa se desafogar porque não aguenta mais, cheira. Ela usa pó para não ver mais quem está na frente dela, atrás, em cima, embaixo. O garoto de programa, que você se deu de presente para seus cinquenta anos, cheira. Você e ele. O pó dá a ele a sensação de ser o mais macho de todos. O sparring com que você treina no ringue para tentar emagrecer cheira. Se não ele, o instrutor de equitação da sua filha, a psicóloga da sua mulher. O melhor amigo do seu marido, aquele que faz
anos te paquera e que nunca te agradou, cheira. Se não ele, o diretor da sua escola. O bedel cheira. O corretor que está fazendo corpo mole justo agora que você conseguiu se liberar para ver o apartamento. Cheira pó o segurança, aquele mesmo que ainda está com o relatório quando todos já arrancam os cabelos por não o terem recebido. Se não ele, o tabelião a cujo escritório você gostaria de não voltar nunca mais, que cheira para não pensar nas pensões devidas às mulheres que deixou. Se não ele, o
taxista que xinga o trânsito mas depois fica alegre. Se não ele, o engenheiro que você tem de convidar à sua casa porque quem sabe ele não te ajuda a conseguir uma promoção. O guarda que está te multando e, enquanto fala, sua em bicas, apesar de ser inverno. O lavador de para-brisas de olhos cavos, que só consegue comprar pó com dinheiro emprestado, ou aquele rapaz que enche os carros de folhetos publicitários, cinco de cada vez. O político que te prometeu um alvará de funcionamento, aquele que você enviou ao Parlamento com seus votos e os da sua família, e que está sempre nervoso. O professor que te ferrou num exame, à sua primeira hesitação. Ou o oncologista que você tem consultado, te disseram que é o
melhor, e que você espera que possa te salvar. Ele, quando cheira, se sente onipotente. Ou o ginecologista, que se esquece de jogar fora o cigarro antes de entrar na sua casa e examinar sua mulher, que está sentindo as primeiras contrações. Seu cunhado que nunca está alegre, o namorado da sua filha que, ao contrário, sempre está. Se não são eles, então o peixeiro, que arruma lindamente o peixe-espada, ou o frentista que
esparrama a gasolina fora do carro. Cheira para se sentir jovem, mas não consegue mais inserir no lugar certo o bico da mangueira. Ou o médico do plano de saúde, que você conhece há anos e que te faz passar na frente sem esperar na fila, porque sabe o que você vai lhe dar de presente de Natal. O porteiro do seu prédio cheira, se não ele, a professora que dá aulas de reforço a seus filhos, o professor de piano do seu neto, a camareira da companhia de teatro a que você vai assistir esta noite, o
veterinário que trata do seu gato. O prefeito com quem você foi jantar. O construtor da casa em que você mora, o escritor que você lê antes de dormir, a jornalista que você vai ver no telejornal. Mas se, pensando bem, você acha que nenhuma dessas pessoas cheira cocaína, ou você é incapaz de ver, ou está mentindo. Ou, simplesmente, quem cheira é você.


Somente um gostinho do livro para vcs.


Quem quiser pode ler ou baixar pelo site:
http://lelivros.top/book/baixar-livro-zero-zero-zero-roberto-saviano-em-pdf-epub-e-mobi-ou-ler-online/


Autor do livro:

ROBERTO SAVIANO
Nasceu em Nápoles, em 1979. É autor, entre outros, de Gomorra (Bertrand Brasil, 2008), que foi traduzido em mais de quarenta países, ultrapassou 10 milhões de exemplares vendidos e originou o filme de mesmo nome, vencedor do Grand Prix do Festival de Cannes em 2008, e de A máquina da lama (Companhia das Letras, 2011). Jurado de morte pela máfia italiana depois da publicação de Gomorra, Saviano seguiu firme em seu propósito de revelar as articulações do crime com a economia formal, escrevendo em jornais como La Repubblica, The New York Times, El País e Die Zeit.

http://www.companhiadasletras.com.br/autor.php?codigo=03076

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